Foi instalada a Assembléia Geral, eleita em 17 de junho de 1831 a Regência Trina Permanente, que ficou composta pelos deputados José da Costa Carvalho – marquês de Monte Alegre -, político do sul do país, João Bráulio Muniz, do norte, e novamente pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Tal composição representava, por um lado, uma tentativa de equilíbrio entre as forças do norte e do sul do país; por outro lado, a permanência do brigadeiro Francisco de Lima e Silva representava a busca pelo controle da situação e manutenção da ordem pública.
Em 1864 foi autorgado o Ato Adicional, talvez a experiência mais democrática ocorrida durante o império, considerada como uma experiência republicana do império que usou elementos da Constituição dos Estados Unidos.
O regente uno passou a ser eleito por voto censitário, com mandato temporário (quatro anos). A eleição e a alternância do chefe do poder executivo permitiram, entre 1835 e 1840, uma experiência considerada republicana e presidencialista no Brasil. O mesmo ato adicional criou as Assembléias Legislativas Provinciais, compostas por deputados eleitos — também por voto censitário — e com poder deliberativo no campo civil, judiciário, eclesiástico, educacional, policial, econômico e tributário. Desta forma, as províncias ganharam uma relativa autonomia legislativa. Portanto, a experiência republicana, além de presidencialista, teve um aspecto federalista (que se constituem em elementos fundamentais do regime político dos EUA).
Conforme estipulado pelo ato adicional, realizou-se, a 7 de abril de 1835, a eleição para o cargo de Regente Único. Duas candidaturas destacaram-se logo de início, sendo ambos os candidatos do Partido Moderador: o paulista Diogo Antônio Feijó, apoiado pelas forças políticas do sul e, também, pela Sociedade Defensora do Rio de Janeiro; e o pernambucano Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque, cuja família era dona de cerca de um terço dos engenhos de açúcar de Pernambuco, legítimo representante da aristocracia nordestina. Feijó venceu por pequena diferença de votos (600), dos cerca de seis mil eleitores do país que, nessa época, tinha aproximadamente cinco milhões de habitantes. Segundo a Constituição brasileira de 1824, os eleitores — cidadãos ativos — eram aqueles que votavam e podiam ser votados.
A Cabanagem no Pará, 1835-1840.
A Cabanagem (1835-1840) foi a revolta na qual negros e índios se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder no Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações humildes e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil.
De cunho popular, contou com a participação de elementos das camadas média e alta da região, entre os quais se destacam os nomes do fazendeiro Félix Clemente Malcher e do seringueiro Eduardo Angelim.
Na Cabanagem negros e índios também se envolveram diretamente no evento, insurgindo-se contra a elite política no Pará. Dentre alguns líderes populares da Cabanagem esteve o negro Manuel Barbeiro, o negro liberto de apelidoPatriota e o escravo Joaquim Antônio, que manifestavam idéias de igualdade social.
Origem do nome
O nome “Cabanagem” remete à habitação (“cabanas”) da população de mestiços, escravos libertos e indígenas que participaram da Cabanagem.
O Cabano Paraense. Pintura de Alfredo Norfini, 1940. Museu de Artes de Belém.
História
Após a Independência do Brasil, a Província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.
O movimento Cabano
Em 7 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. O governo cabano não durou por muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher – tenente-coronel, latifundiário, dono de engenhos de açúcar – era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, é deposto em 19 de fevereiro de 1835. Por fim, Malcher acabou preso. Assumiu a Presidência, Francisco Vinagre.
Contudo, em abril de 1836 chegava o marechal José Soares de Andrea, novo presidente, nomeado pela Regência. Andrea intimou os cabanos a abandonarem Belém. Angelim e seus auxiliares concordaram.
A última fase da Cabanagem é iniciada com a tomada de Belém por Andréa, com o restabelecimento da legalidade na Província. Apossando-se de Belém, as lutas ainda duraram quatro anos no interior da Província, onde ocorria o avanço das forças militares de forma violenta até 1840.
A Cabanagem continua viva na memória do povo paraense como o movimento popular que permitiu que as classes populares chegassem ao poder instalando um governo popular ou cabano no Pará do século XIX.
Monumento à Cabanagem, projetado por Oscar Niemeyer, em 1985. Belém, Pará.
A Cabanagem do Pará é o único movimento político do Brasil em que os pobres tomam o poder, de fato. É o único e isolado episódio de extrema violência social, quando os oprimidos – a ralé mais baixa, negros, tapuios, mulatos e cafuzos, além de brancos rebaixados que parecem não ter direito à branquitude, (…) assumem o poder e reinam absolutos, eliminando quase todas as formas de opressão, arrebentando com a hierarquia social, destruindo as forças militares e substituindo-as por algo que faz tremer os poderosos: o povo em armas.
(CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem: o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984. pp. 12-14.)
A Revolução dos Farrapos, Rio Grande do Sul, 1835-1845.
A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras como a Balaiada e a Cabanagem.
Antecedentes e causas
A justificativa original se centrava no conflito político entre os liberais que propugnavam um modelo de estado com maior autonomia às províncias, e o modelo imposto pela constituição de D. Pedro I de caráter unitário. Além disso, havia uma disseminação de ideais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade.
Farrapos ou farroupilhas eram chamados todos os que se revoltaram contra o governo imperial, e que culminou com aProclamação da República Rio-Grandense. Era um termo considerado originalmente pejorativo. Seus oponentes imperiais eram por eles chamados de caramurus, termo em geral aplicado aos membros do Partido Restaurador no Parlamento Imperial.
Cavalaria Farroupilha, de Guilherme Litran, acervo do Museu Júlio de Castilhos, Rio Grande do Sul.Os farrapos constituía um grupo de liberais exaltados formado por fazendeiros (chamados de “estancieiros”) do Rio Grande do Sul e populares descontentes com a política do Império do Brasil.
A Revolta Farroupilha
No ano de 1835 os ânimos políticos estavam exaltados. O descontentamento de estancieiros ou fazendeiros, liberais, industriais do charque e militares locais promoviam reuniões em casas de particulares, destacando-se a figura de Bento Gonçalves.
O Fim da Revolução Farroupilha
A partir de 1837 temos o início do fim da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos. Bento Gonçalves foi preso em batalha pelo exército imperial brasileiro em 26 de agosto de 1837, chegou à prisão do Forte de São Marcelo, na Bahia, mas conseguiu fugir a 10 de Setembro do mesmo ano. Chegando de volta ao Rio Grande do Sul a 16 de Novembro de 1837, assume o posto de Presidente da República Rio-Grandense.
A Revolta dos Malês, Bahia, 1835.
A chamada Revolta dos Malês ocorreu de 25 a 27 de Janeiro de 1835 na cidade de Salvador, capital da então Província da Bahia, no Brasil.
Consistiu numa sublevação de caráter racial, de escravos africanos das etnias hauçá e nagô, de religião islâmica, organizados em torno de propostas radicais para libertação dos demais escravos africanos. O termo “malê” deriva do iorubá “imale”, designando o muçulmano, isto é, o crente islâmico.
Foi rápida e duramente reprimida pelos poderes políticos e militares do governo brasileiro.
Planejada por elementos que possuíam experiência anterior de combate, na África, de maneira geral. Os malês desejavam o fim do catolicismo – religião que lhes era imposta -, o assassinato e confisco dos bens de todos os brancos e mulatos e a implantação de uma monarquia islâmica, com a escravidão dos não muçulmanos. Lutavam pelo fim da escravidão, da propriedade particular da terra e do caráter oficial e exclusivo da religião católica.
De acordo com o plano de ataque, assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os revoltosos sairiam da Vitória (atual bairro da Barra, em Salvador) “tomando a terra e matando toda a gente branca“. De lá rumariam para a Água de Meninos e, depois, para Itapagipe, onde se reuniriam ao restante das forças. O passo seguinte seria a invasão dos engenhos do Recôncavo baiano e a libertação dos escravos.
A repressão pelas autoridades e o fim da revolta
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos revoltosos. Duzentos e oitenta e um, entre escravos e libertos, foram detidos no Forte do Mar e levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte para quatro dos principais líderes, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites.
A Balaiada no Maranhão, 1838-1841.
A Balaiada foi uma revolta de fundo social, ocorrida entre 1838 e 1841 no interior da então Província do Maranhão, no Brasil. A Balaiada foi feita por pessoas humildes, pobres da região, escravos, fugitivos e prisioneiros. A definitiva pacificação só foi conseguida com a anistia concedida pelo imperador aos revoltosos sobreviventes.
Boa parte dos revoltosos da Balaiada eram negros fabricantes de balaios, isto é, cestos de tala e palha, como na fotografia litografada acima de Victor Frond, 1859.
Antecedentes
Durante o Período regencial brasileiro o Maranhão, no campo político ocorria uma disputa no seio da classe dominante pelo poder, que se refletia no Maranhão opondo, por um lado, os liberais (bem-te-vis) e os conservadores (cabanos).
O movimento da Balaiada
O evento que deu início à revolta foi a detenção do irmão do maranhense Raimundo Gomes, da fazenda do padre Inácio Mendes (bem-te-vi), por determinação do sub-Prefeito da povoação de Manga, José Egito (cabano). Contestando a detenção do irmão, Raimundo Gomes, com o apoio de um contingente da Guarda Nacional, invadiu o edifício da cadeia pública da povoação e libertou-o, em dezembro de 1838. Em seguida, Raimundo Gomes, com o apoio de Cosme Bento, ex-escravo à frente de três mil africanos fugidos, ocupou em 1839 a cidade de Caxias, segundo maior centro comercial do Maranhão. Alí organizaram um governo provisório, que prometia ser fiel ao rei e a religião, mas os balaios exigiam a expulsão dos portugueses da provincia e o fim da guarda nacional.
Raimundo Gomes afixou na Vila da Manga (MA) um manifesto contendo suas reivindicações:
“Ilmo. Sr. Capitão Manuel Alves d´Abreu. Vila da Manga, 15 de dezembro de 1838. Como Acho nesta Vila com a reunião do Povo e bem do sossego publico como conta do Artigo 1.º) Que seja considerada a constituição e garantindo os cidadãos. 2.º) Que seja admitido o Presidente de Provincia e entregue o governo ao Vice-Prezidente. 3.º) Que seja abolidos os Prefeitos e Subs-Prefeitos, Comissarios ficando em Vigorar as Leis geraes e as Provincias que não forem de encontro a Constituição do Império. 4.º) Que sejam expulsados os portuguezes da Provincia dentro de 15 dias com exceção dos cazados com familias brasileiras e os de 60 anos para cima.” Raimundo Gomes Vieira – Comandante da Forca armada.
Vila da Manga 15 de dezembro de 1838.
(JANOTTI, Maria e Lourdes Mônaco. A Balaiada. São Paulo: Brasiliense, 1987. pp. 44-45.)
A repressão
Para combater os balaios foi nomeado Presidente e Comandante das Armas da Província, o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que venceu os revoltosos na Vila de Caxias. Por isso foi promovido a General e recebeu o seu primeiro título de nobreza , Barão de Caxias, e inicia aí, a sua fase de “O PACIFICADOR”.
Apesar das tentativas de manipulação por parte dos bem-te-vis, o movimento adquiriu feição própria, saindo de controle. Diante da proporção alcançada, envolvendo as camadas populares, as elites locais se aproximaram em busca de estratégias para derrotar os revoltosos. Diante desse esforço, o governo regencial enviou tropas sob o comando do então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, nomeado Presidente da Província. Conjugando a pacificação política com uma bem sucedida ofensiva militar, em uma sucessão de confrontos vitoriosos obtida pela concessão de anistia aos chefes revoltosos que auxiliassem a repressão aos rebelados, obteve a pacificação da Província em 1841.
Os líderes balaios ou foram mortos em batalha ou capturados. Destes últimos, alguns foram julgados e executados, como Cosme Bento, por enforcamento.